Palestra do Dr. Alexandre Mendonça Munhoz no II Allergan Academy Hotel Grand Hyatt São Paulo/SP 2011 - Implante Mamário de Silicone Gel, Prótese de Mama, Mamoplastia de Aumento. Natrelle. |
II ALLERGAN ACADEMY
Hotel Grand Hyatt
1o. de Junho de 2011
II Allergan Academy Hotel Grand Hyatt São Paulo/SP 2011 - Coordenação Dr. Alexandre Mendonça Munhoz. Implante Mamário de Silicone Gel, Prótese de Mama, Mamoplastia de Aumento. Natrelle. |
Implantes Mamários de Silicone Gel de Última Geração
Influência na Prática Cirúrgica da Mamoplastia de Aumento
Influência na Prática Cirúrgica da Mamoplastia de Aumento
No dia 1o. de junho de 2011 ocorreu no Hotel Grand Hyatt em São Paulo/SP em conjunto com a XXXI Jornada Paulista de Cirurgia Plástica, a 2a. edição do evento científico internacional focado em implantes mamários de última geração, o Allergan Academy. O primeiro evento semelhante ocorreu no Brasil também em São Paulo em 2008 no Hotel Maksoud de Plaza em conjunto com a Jornada Paulista e teve a participação de aproximadamente 300 colegas cirurgiões plásticos. Neste evento de 2011, coordenado pelo Dr. Alexandre Mendonça Munhoz, houve a participação de mais de 600 congressistas que tiveram a oportunidade de compartilhar as últimas evoluções tecnológicas dos implantes mamários de silicone gel e expansores de tecidos, não apenas na cirurgia de aumento mamário com objetivo estético mas também na aplicação dos expansores e implantes de silicone na cirurgia reparadora da mama.
O evento teve a participação de renomados colegas do Brasil, como o Dr. Eduardo Montag (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo - ICESP) com a palestra sobre resultados e complicações dos implantes de última geração com base nos estudos controlados pelo FDA (core-studies). O Dr. Felipe Coutinho de São Paulo com sua experiência no segundo tempo das reconstruções mamária e a escolha do implante ideal e o Dr. Paulo Leal (chefe do Departamento de Cirurgia Plástica do INCA/RJ) com a utilização dos implantes de última geração anatômicos na simetrização pós mastectomia. Entre os palestrantes internacionais tivemos a oportunidade de presenciar os cirurgiões americanos Dr. Grant Stevens de Marina del Rey / Califórnia (editor da revista Aesthetic Surgery Journal) e o Dr. Peter Cordeiro, chefe do departamento de cirurgia plástica do Hospital Memorial Sloan-Kattering / New York.
O evento teve foco principalmente nos implantes de última geração e os resultados a longo prazo por meio de estudos clínicos controlados e a aplicação de técnicas cirúrgicas em situações clínicas específicas como na reconstrução imediata da mama, simetrização da mama oposta e na mastopexia com implantes. Diferente dos eventos anteriores e com objetivo de compartilhar os mais recentes avanços da cirurgia da face, houve a relevante participação do colega Maurício de Maio com interessantes palestras sobre a toxina butulínica e os preenchimentos faciais.
O primeiro bloco do Academy teve como foco a mamoplastia de aumento estética onde foram abordados alguns aspectos da evolução dos implantes mamários, a superfície texturizada de última geração, os resultados e as complicações observadas nos estudos controlados pelo FDA (core studies) e o tratamento de afecções mamárias que apresentam controvérsia nos dias atuais como a mastopexia com implantes e as cirurgias secundárias e terciárias.
O Dr. Alexandre Mendonça Munhoz abordou em sua palestra de abertura a evolução dos implantes mamários de última geração e o impacto deste desenvolvimento no aprimoramento técnico por parte dos cirurgiões plásticos. Sabe-se atualmente por meio de uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Folha no período de 2007-2008, que a cirurgia de aumento mamário situa-se como a mais realizada em nosso meio e representando quase 21% de todos os procedimentos cirúrgicos realizados no âmbito da cirurgia plástica.
Esta realidade também é compartilhada por outros países da América Latina, Estados Unidos e Europa e em grande parte é decorrente do aprimoramento técnico por parte dos cirurgiões nos últimos 20 anos. Ademais, o maior desenvolvimento tecnológico na produção dos implantes de silicone associado com as superiores características físicas da superfície de revestimento externo (elastômero) e do silicone favoreceram a maior previsibilidade do resultado e a manutenção do mesmo de maneira segura e a longo prazo. Por outro lado a oferta de um maior número de formatos (anatômico, perfil baixo, moderado, alto, extra-alto...) e dimensões distintas (largura x altura) permitiram novas alternativas de tratamento para diferentes tipos de anatomia e desta forma uma maior indicação da cirurgia devido a resultados estéticos mais satisfatórios.
Evolução dos Implantes de Silicone Gel e as Consecutivas Gerações
Na verdade esta evolução em quase 50 anos de tecnologia de implantes mamários pode ser notado de maneira mais acentuada em períodos distintos e caracterizados pelas diferentes gerações de implantes. Na década de 60 os implantes apresentavam-se com revestimento espesso e o silicone com maior consistência, todavia sem as características de coesividade das gerações mais atuais. Devido ao apelo comercial e a necessidade de modelos mais macios e confortáveis muitas alterações surgiram na década seguinte como a menor espessura do elastômero e a maior fluidez do silicone. Desta forma a 2a. geração teve impacto direto nas complicações a longo prazo como ruptura, extravasamento e migração do gel observado na década seguinte, ou seja anos 80 e 90 e motivo da moratória imposta pelo FDA.
Na reflexão dos resultados insatisfatórios desta geração e ponderando as complicações a longo prazo como contratura e ruptura, novos tipos de revestimento começaram a ser pesquisados e surge na década de 80 as texturas mais modernas, quais sejam a Biocell e Siltex, característica dos implantes de 3a. e 4a. geração. Já no final da década de 90 e empregando novas texturas com características distintas de coesividade do gel começa então um novo conceito na abordagem da mamoplastia de aumento. A individualização na escolha do implante por meio de modelos e sub-modelos anatômicos e o planejamento da cirurgia, sobretudo da escolha do implante a partir de dimensões como altura e largura da mama, são características desta última geração.
A Contratura Capsular e Repercussões na Evolução da Técnica
Apesar das diferenças entre cada geração no que tange os aspectos relacionados ao revestimento e ao silicone, o fator incentivador para as alterações em cada uma delas foi sem dúvida o fenômeno da contratura capsular tardia. Desta forma e analisando retrospectivamente os últimos 40 anos, inúmeras pesquisas focaram de maneira experimental e/ou clínica o desenvolvimento da contratura capsular e os principais fatores envolvidos. Apesar de não apresentarem até o presente momento a relação de causa e efeito de maneira contundente, alguns fatores apresentam relação direta ou indireta com o desenvolvimento da contratura da cápsula. Entre os principais merece destaque a fatores relacionados ao silicone, a técnica cirúrgica, a infecção clínica/subclínica e a morfologia da superfície do implante.
Infecção x Contratura : Existe Relação ??
No que tange a infecção, alguns trabalhos na literatura já na década de 80 postulavam a etiologia infecciosa da contratura capsular. A partir de análises microscópicas e imunohistoquímica de cápsulas fibrosas em pacientes com contratura grave, observou-se uma maior incidência de resíduos/indícios de colônias bacterianas quando comparou-se com cáspulas sem contratura. Assim, e aventando-se a natureza infecciosa, coube a Universidade do Texas o desenvolvimento de um importante estudo prospectivo no qual avaliou-se a incidência de contratura em pacientes submetidas a lavagem do implante e da loja com solução antibiótica mixta.
Publicado em 2006 por William Adams no Plastic and Reconstructive Surgery, o estudo avaliou o emprego da solução tripla contendo Cafazolina (1g), Gentamicina (80mg) e Bacitracina (50000 UI) em pacientes submetidas a cirurgia estética e reconstrutora com implantes de silicone. Com um seguimento de 6 anos observou-se que no grupo de cirurgia estética que recebeu a solução de lavagem tripla a incidência de contratura capsular Baker III e IV foi de 1,8% quando comparado a 9% observado no grupo controle (redução de 4-5 vezes). Já no grupo reconstrução que recebeu a solução a incidência de contratura foi 9,5% quando comparado a 27% com o grupo que não recebeu (redução de 3 vezes), enfatizando desta forma o papel da infecção como provável fator etiológico desta afecção.
Há Relevância no Tipo de Revestimento do Implante : Liso x Texturizado ??
Outro fator não menos importante e vinculado de maneira clara à etiologia da contratura é a superfície de revestimento do implante de silicone. Neste aspecto, talvez tenha sido o maior avanço observado nos últimos anos em relação a durabilidade dos implantes e os resultados mais satisfatórios a longo prazo. Desenvolvidas na década de 70 com a introdução do Poliuretano, as superfícies texturizadas tiveram grande avanço a partir do final da década de 80 e início da 90 com o aperfeiçoamento das texturas mais modernas.
Até este momento, os implantes de revestimento liso representavam quase 80% do mercado de implantes e com resultados limitados e alta incidência de contratura capsular a longo prazo. Apesar de inicialmente controverso no ínicio se realmente as superfícies texturizadas tinham papel preponderante na prevenção e/ou redução da contratura, coube ao grupo canadense de Halifax/Nova Escócia e coordenado por Barnsley a execução de uma meta-análise publicada em 2006 no Plastic and Reconstructive Surgery.
Sabe-se que a meta-análise possuiu o maior poder estatístico e nível de evidência entre os diferentes tipos de ensaios clínicos controlados ou retrospectivos, caracterizando-se assim evidência nível I para a tomada de decisões e para a vinculação de um possível agente a um efeito. No estudo de Barnsley et al., 7 outros estudos clínicos prospectivos randomizados foram incluídos na análise estatística e observou-se de maneira contundente que as superfícies texturizadas apresentaram menor incidência de contratura que as superfícies lisas. Ademais, a texturização se mostrou como fator protetor e a superfície lisa apresentou uma razão de chances (odds ratio) 5 vezes maior para o desenvolvimento da contratura da cápsula que os implantes texturizados.
Há Relevância no Tipo de Textura do Implante ??
Se em relação ao implante liso e texturizado, a meta-análise de Barnsley et al. esclarece os principais pontos de controvérsia, resta-nos avançar nos aspectos relacionados ao tipo e qualidade da texturização e sua relevância neste contexto. Em outras palavras, existem diferenças significativas nas mais diversas superfícies de revestimento de implantes existentes atualmente no que tange a incidência e/ou prevenção da contratura capsular? A grande maioria dos fabricantes de implantes mamários confeccionam superfícies próprias com características distintas.
Em comum são todas constituídas pelo elastômero de silicone e apresentam aspectos diferentes quanto a qualidade do elastômero, a profundidade dos poros na superfície e o número de camadas de revestimento. É fato que no mercado de implantes mamários existem atualmente (disponíveis na América Latina) mais de 7 diferentes tipos de texturas consideradas "por elas próprias" como de última geração e relevantes no sentido de prevenção da contratura capsular.
Microscopia eletrônica de superfície
Sob uma análise mais apurada e baseando-se em estudos clínicos controlados e prospectivos publicados e indexados, conseguimos identificar dois tipos principais de texturas no que tange a análise microscópica da superfície de revestimento e os resultados clínicos a médio e longo prazo. De forma alguma as outras marcas e texturas apresentam maiores qualidades e/ou defeitos, todavia não há até o presente momento estudos confiáveis publicados em revistas científicas indexadas e que atestam e/ou refutam os resultados e as características das características destas texturas. Desta forma, nos baseamos em uma análise simplesmente metodológica e alicerçada no material cinetífico vigente atualmente.
Neste contexto merecem destaque duas superfícies texturizadas desenvolvidas no final da década de 80 a partir do embasamento proposto pelo poliuretano, porém sem as características de aderência extrema e posterior delaminação. Desenvolvidas e produzidas por empresas totalmente distintas e que, apesar apresentarem texturização, apresentam método de confecção, comportamento fisiológico e clínico totalmente distinto.
Desta forma e baseando-se nesta premissa podemos mencionar a superfície texturizada SILTEX (Mentor Corporation 1987) e a BIOCELL (Mcghan Corporation 1988), ambas aprovadas pelo sistema regulatório dos EUA, o FDA e que serviram de base no início dos anos 2000 para a elaboraçõa dos estudos controlados prospectivos que validaram a segurança dos implantes de silicone gel pós moratória imposta pelo governo americano.
Como mencionado previamente, ambas são texturizadas porém a diferença inicia-se no método de confecção do revestimento externo. No sistema Biocell, a produção da texturização é realizada pelo método de agregação de micropartículas de "sal" e posterior eliminação destas substâncias do revestimento do implante. Desta forma, consegue-se como um "imprint" negativo com irregularidades e reentrâncias sobre a superfície do implante com aspecto multiporoso e irregular. Em uma análise mais detalhada não consegue-se identificar padrões na distribuição dos poros nem tampouco na sua profundidade e espaçamento, fato este que caracteriza a superfície como uma textura mais "grosseira".
Em um interessante estudo francês conduzido por Danino et al., da Universidade Saint Louis de Paris avaliou por meio de microscopia eletrônica de varredura aos aspectos microscópicos e a nanoestrutura das superfícies texturizadas Biocell RTV (McGhan / Allergan / Natrelle) e Siltex 1600 (Mentor). Por meio de um microscópico-scanner analítico de superfície (JSM 6510A - Analytical Scanning Microscope) avaliou-se 1cm2 de superfícies texturizadas e contabilizou o número de poros, a distância, a regularidade e a profundidade dos mesmos. Os mesmos aspectos foram também avaliados na imagem correspondente da cápsula fibrosa dos implantes.
Na superfície do tipo Biocell foi constatado um menor número de poros por 1,5 mm2 de superfície analisada, porém os mesmos se apresentaram mais profundos, com maior dimensão e distribuídos de maneira irregular quando comparados a superfície Siltex. Na contabilização analítica, O Biocell apresentou-se como depressões na superfície do elastômero com diâmetro que variaram entre 600-800 micrômetros (8/1,5 mm2). Já a superfície Siltex se mostrou não como depressões mas sim como nódulos/protuberâncias na superfície do elastômero com alturas variáveis entre 40-100 micrômetros (15/1,5 mm2).
Impacto da superfície texturizada no comportamento da cápsula fibrosa
Frente a essas diferenças marcantes no que tange as características microscópicas entre as duas superfícies principais, resta indagar qual seria a representação clínica e comportamento em termos de evolução a longo prazo e prevenção da contratura capsular entre uma superfície mais "grosseira" com poros irregulares e uma outra mais "suave" com nódulos regulares. De fato, a relação do elastômero com a cápsula fibrosa peri-implante se apresenta do ponto de vista macro e microscópico de maneira bem distinta quando avaliamos as duas superfícies.
No revestimento Biocell, há um crescimento franco da cápsula fibrosa na intimidade da superfície promovendo desta forma a adesão tecidual muito semelhante ao mecanismo de "velcro". Já na superfície do tipo Siltex, a aderência não ocorre ou se faz de maneira menos intensa uma vez que a presença de nódulos e não de poros não permite o mecanismo de "velcro" propriamente dito. Com isso, no Biocell há uma estabilidade maior do implante uma vez que a aderência tecidual é mais marcante e prevenção da contratura capsular.
Apesar do comportamento adverso e da relação entre cápsula e o elastômero texturizado se apresentar de maneira distinta entre as duas superfícies, nem sempre existe uma previsibilidade na formação do "velcro" e a estabilidade do implante. É fato que dois fenômenos podem participar de maneira diferente na relação do implante com a cápsula e de comportamento distinto influenciar nos resultados a longo prazo. O primeiro comportamento é caracterizado como aderência tecidual e é o desejado para todos os tipos de implante com superfície Biocell.
Neste fenômeno há a aderência com crescimento da cápsula na intimidade dos poros, a perda da força tênsil da cápsula fibrosa devido a não linearidade das fibras de colágeno e o sistema "velcro" com estabilidade e aderência do implante. Já um outro tipo de fenômeno é caracterizado como aderência fibrosa e apresenta comportamento e evolução totalmente distinto da aderência tecidual.
A aderência fibrosa é relativamente frequente na cápsula posterior do implante e não traz maiores consequências clínicas em termos de estabilidade e/ou contratura capsular. Todavia, quando circunferencial gera o fenômeno da cápsula dupla ("double-capsule"). Embora mais raro, pode estar envolvido a contratura capsular e a instabilidade do implante a médio/longo prazo. Entre as razões principais como determinantes na evolução de um ou outro comportamento podemos mencionar a mobilidade do implante no períodos iniciais da formação da cápsula.
Desta forma, torna-se imperioso que na utilização do Biocell, a loja do implante se apresente de maneira muito próxima ao tamanho do implante de modo a não permitir movimentações nos períodos iniciais. Ademais, deve-se evitar ao máximo manipulações externas do implante como massagens/drenagem linfática de sorte a evitar movimentação e impedir a formação do sistema "velcro".
Atualmente toda a linha de implantes e expansores Allergan / Natrelle apresenta revestimento texturizado tipo Biocell. Nos implantes anatômicos biodimensionais como os estilos 410, 510 e 150 implante-expansor este aspecto de revestimento traz um grande benefício uma vez que permite uma maior aderência tecidual e evita/minimiza a possibilidade de pequenas rotações no sentido horário / anti-horário. Em se tratando de implantes anatômicos, a eventual situação de uma rotação pode comprometer o resultado estético e resultar em assimetrias.
Nos expansores estilo 133 MV e FV, a aderência também contribui para estabilização do expansor na loja correta da mastectomia e no plano submuscular. A não aderência e a força contrátil do músculo peitoral podem levar a migração do expansor para o polo superior da mama e desta forma prejudicar o cone ideal de expansão tissular no polo central e inferior da mama.
Em conclusão, muitas evoluções não apenas na técnica cirúrgica mas sobretudo nas características físicas dos implantes mamários permitiram atualmente resultados mais previsíveis e seguros. Ademais, a texturização de última geração dos implantes de última geração e, em específico as características de relação tissular do Biocell, acrescentam novas propriedades contribuindo desta forma no resultado estético a longo prazo e na redução de complicações nas pacientes submetidas a cirurgia estética e reparadora da mama.
II Allergan Academy Hotel Grand Hyatt São Paulo/SP 2011 - Coordenação Dr. Alexandre Mendonça Munhoz. Implante Mamário de Silicone Gel, Prótese de Mama, Mamoplastia de Aumento. Natrelle. |
O evento teve a participação de renomados colegas do Brasil, como o Dr. Eduardo Montag (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo - ICESP) com a palestra sobre resultados e complicações dos implantes de última geração com base nos estudos controlados pelo FDA (core-studies). O Dr. Felipe Coutinho de São Paulo com sua experiência no segundo tempo das reconstruções mamária e a escolha do implante ideal e o Dr. Paulo Leal (chefe do Departamento de Cirurgia Plástica do INCA/RJ) com a utilização dos implantes de última geração anatômicos na simetrização pós mastectomia. Entre os palestrantes internacionais tivemos a oportunidade de presenciar os cirurgiões americanos Dr. Grant Stevens de Marina del Rey / Califórnia (editor da revista Aesthetic Surgery Journal) e o Dr. Peter Cordeiro, chefe do departamento de cirurgia plástica do Hospital Memorial Sloan-Kattering / New York.
O evento teve foco principalmente nos implantes de última geração e os resultados a longo prazo por meio de estudos clínicos controlados e a aplicação de técnicas cirúrgicas em situações clínicas específicas como na reconstrução imediata da mama, simetrização da mama oposta e na mastopexia com implantes. Diferente dos eventos anteriores e com objetivo de compartilhar os mais recentes avanços da cirurgia da face, houve a relevante participação do colega Maurício de Maio com interessantes palestras sobre a toxina butulínica e os preenchimentos faciais.
Hotel Grand Hyatt São Paulo/SP 2011, local do evento II Allergan Academy - Coordenação Dr. Alexandre Mendonça Munhoz. |
Hotel Grand Hyatt São Paulo/SP 2011, local do evento II Allergan Academy - Coordenação Dr. Alexandre Mendonça Munhoz. |
O primeiro bloco do Academy teve como foco a mamoplastia de aumento estética onde foram abordados alguns aspectos da evolução dos implantes mamários, a superfície texturizada de última geração, os resultados e as complicações observadas nos estudos controlados pelo FDA (core studies) e o tratamento de afecções mamárias que apresentam controvérsia nos dias atuais como a mastopexia com implantes e as cirurgias secundárias e terciárias.
O Dr. Alexandre Mendonça Munhoz abordou em sua palestra de abertura a evolução dos implantes mamários de última geração e o impacto deste desenvolvimento no aprimoramento técnico por parte dos cirurgiões plásticos. Sabe-se atualmente por meio de uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Folha no período de 2007-2008, que a cirurgia de aumento mamário situa-se como a mais realizada em nosso meio e representando quase 21% de todos os procedimentos cirúrgicos realizados no âmbito da cirurgia plástica.
Esta realidade também é compartilhada por outros países da América Latina, Estados Unidos e Europa e em grande parte é decorrente do aprimoramento técnico por parte dos cirurgiões nos últimos 20 anos. Ademais, o maior desenvolvimento tecnológico na produção dos implantes de silicone associado com as superiores características físicas da superfície de revestimento externo (elastômero) e do silicone favoreceram a maior previsibilidade do resultado e a manutenção do mesmo de maneira segura e a longo prazo. Por outro lado a oferta de um maior número de formatos (anatômico, perfil baixo, moderado, alto, extra-alto...) e dimensões distintas (largura x altura) permitiram novas alternativas de tratamento para diferentes tipos de anatomia e desta forma uma maior indicação da cirurgia devido a resultados estéticos mais satisfatórios.
Evolução dos Implantes de Silicone Gel e as Consecutivas Gerações
Na verdade esta evolução em quase 50 anos de tecnologia de implantes mamários pode ser notado de maneira mais acentuada em períodos distintos e caracterizados pelas diferentes gerações de implantes. Na década de 60 os implantes apresentavam-se com revestimento espesso e o silicone com maior consistência, todavia sem as características de coesividade das gerações mais atuais. Devido ao apelo comercial e a necessidade de modelos mais macios e confortáveis muitas alterações surgiram na década seguinte como a menor espessura do elastômero e a maior fluidez do silicone. Desta forma a 2a. geração teve impacto direto nas complicações a longo prazo como ruptura, extravasamento e migração do gel observado na década seguinte, ou seja anos 80 e 90 e motivo da moratória imposta pelo FDA.
Na reflexão dos resultados insatisfatórios desta geração e ponderando as complicações a longo prazo como contratura e ruptura, novos tipos de revestimento começaram a ser pesquisados e surge na década de 80 as texturas mais modernas, quais sejam a Biocell e Siltex, característica dos implantes de 3a. e 4a. geração. Já no final da década de 90 e empregando novas texturas com características distintas de coesividade do gel começa então um novo conceito na abordagem da mamoplastia de aumento. A individualização na escolha do implante por meio de modelos e sub-modelos anatômicos e o planejamento da cirurgia, sobretudo da escolha do implante a partir de dimensões como altura e largura da mama, são características desta última geração.
A Contratura Capsular e Repercussões na Evolução da Técnica
Apesar das diferenças entre cada geração no que tange os aspectos relacionados ao revestimento e ao silicone, o fator incentivador para as alterações em cada uma delas foi sem dúvida o fenômeno da contratura capsular tardia. Desta forma e analisando retrospectivamente os últimos 40 anos, inúmeras pesquisas focaram de maneira experimental e/ou clínica o desenvolvimento da contratura capsular e os principais fatores envolvidos. Apesar de não apresentarem até o presente momento a relação de causa e efeito de maneira contundente, alguns fatores apresentam relação direta ou indireta com o desenvolvimento da contratura da cápsula. Entre os principais merece destaque a fatores relacionados ao silicone, a técnica cirúrgica, a infecção clínica/subclínica e a morfologia da superfície do implante.
Infecção x Contratura : Existe Relação ??
No que tange a infecção, alguns trabalhos na literatura já na década de 80 postulavam a etiologia infecciosa da contratura capsular. A partir de análises microscópicas e imunohistoquímica de cápsulas fibrosas em pacientes com contratura grave, observou-se uma maior incidência de resíduos/indícios de colônias bacterianas quando comparou-se com cáspulas sem contratura. Assim, e aventando-se a natureza infecciosa, coube a Universidade do Texas o desenvolvimento de um importante estudo prospectivo no qual avaliou-se a incidência de contratura em pacientes submetidas a lavagem do implante e da loja com solução antibiótica mixta.
Adams W. et al.
Plastic and Reconstrutive Surgery. 117(1): 30-36, 2006.
Publicado em 2006 por William Adams no Plastic and Reconstructive Surgery, o estudo avaliou o emprego da solução tripla contendo Cafazolina (1g), Gentamicina (80mg) e Bacitracina (50000 UI) em pacientes submetidas a cirurgia estética e reconstrutora com implantes de silicone. Com um seguimento de 6 anos observou-se que no grupo de cirurgia estética que recebeu a solução de lavagem tripla a incidência de contratura capsular Baker III e IV foi de 1,8% quando comparado a 9% observado no grupo controle (redução de 4-5 vezes). Já no grupo reconstrução que recebeu a solução a incidência de contratura foi 9,5% quando comparado a 27% com o grupo que não recebeu (redução de 3 vezes), enfatizando desta forma o papel da infecção como provável fator etiológico desta afecção.
Palestra do Dr. Alexandre Mendonça Munhoz no II Allergan Academy Hotel Grand Hyatt São Paulo/SP 2011 - Implante Mamário de Silicone Gel, Prótese de Mama, Mamoplastia de Aumento. Natrelle. |
Há Relevância no Tipo de Revestimento do Implante : Liso x Texturizado ??
Outro fator não menos importante e vinculado de maneira clara à etiologia da contratura é a superfície de revestimento do implante de silicone. Neste aspecto, talvez tenha sido o maior avanço observado nos últimos anos em relação a durabilidade dos implantes e os resultados mais satisfatórios a longo prazo. Desenvolvidas na década de 70 com a introdução do Poliuretano, as superfícies texturizadas tiveram grande avanço a partir do final da década de 80 e início da 90 com o aperfeiçoamento das texturas mais modernas.
Até este momento, os implantes de revestimento liso representavam quase 80% do mercado de implantes e com resultados limitados e alta incidência de contratura capsular a longo prazo. Apesar de inicialmente controverso no ínicio se realmente as superfícies texturizadas tinham papel preponderante na prevenção e/ou redução da contratura, coube ao grupo canadense de Halifax/Nova Escócia e coordenado por Barnsley a execução de uma meta-análise publicada em 2006 no Plastic and Reconstructive Surgery.
Barnsley et al.
Plastic and Reconstrutive Surgery. 117(7): 2182-2190, 2006.
Sabe-se que a meta-análise possuiu o maior poder estatístico e nível de evidência entre os diferentes tipos de ensaios clínicos controlados ou retrospectivos, caracterizando-se assim evidência nível I para a tomada de decisões e para a vinculação de um possível agente a um efeito. No estudo de Barnsley et al., 7 outros estudos clínicos prospectivos randomizados foram incluídos na análise estatística e observou-se de maneira contundente que as superfícies texturizadas apresentaram menor incidência de contratura que as superfícies lisas. Ademais, a texturização se mostrou como fator protetor e a superfície lisa apresentou uma razão de chances (odds ratio) 5 vezes maior para o desenvolvimento da contratura da cápsula que os implantes texturizados.
Palestra do Dr. Alexandre Mendonça Munhoz no II Allergan Academy Hotel Grand Hyatt São Paulo/SP 2011 - Implante Mamário de Silicone Gel, Prótese de Mama, Mamoplastia de Aumento. Natrelle. |
Há Relevância no Tipo de Textura do Implante ??
Se em relação ao implante liso e texturizado, a meta-análise de Barnsley et al. esclarece os principais pontos de controvérsia, resta-nos avançar nos aspectos relacionados ao tipo e qualidade da texturização e sua relevância neste contexto. Em outras palavras, existem diferenças significativas nas mais diversas superfícies de revestimento de implantes existentes atualmente no que tange a incidência e/ou prevenção da contratura capsular? A grande maioria dos fabricantes de implantes mamários confeccionam superfícies próprias com características distintas.
Em comum são todas constituídas pelo elastômero de silicone e apresentam aspectos diferentes quanto a qualidade do elastômero, a profundidade dos poros na superfície e o número de camadas de revestimento. É fato que no mercado de implantes mamários existem atualmente (disponíveis na América Latina) mais de 7 diferentes tipos de texturas consideradas "por elas próprias" como de última geração e relevantes no sentido de prevenção da contratura capsular.
Microscopia eletrônica de superfície
Sob uma análise mais apurada e baseando-se em estudos clínicos controlados e prospectivos publicados e indexados, conseguimos identificar dois tipos principais de texturas no que tange a análise microscópica da superfície de revestimento e os resultados clínicos a médio e longo prazo. De forma alguma as outras marcas e texturas apresentam maiores qualidades e/ou defeitos, todavia não há até o presente momento estudos confiáveis publicados em revistas científicas indexadas e que atestam e/ou refutam os resultados e as características das características destas texturas. Desta forma, nos baseamos em uma análise simplesmente metodológica e alicerçada no material cinetífico vigente atualmente.
Neste contexto merecem destaque duas superfícies texturizadas desenvolvidas no final da década de 80 a partir do embasamento proposto pelo poliuretano, porém sem as características de aderência extrema e posterior delaminação. Desenvolvidas e produzidas por empresas totalmente distintas e que, apesar apresentarem texturização, apresentam método de confecção, comportamento fisiológico e clínico totalmente distinto.
Desta forma e baseando-se nesta premissa podemos mencionar a superfície texturizada SILTEX (Mentor Corporation 1987) e a BIOCELL (Mcghan Corporation 1988), ambas aprovadas pelo sistema regulatório dos EUA, o FDA e que serviram de base no início dos anos 2000 para a elaboraçõa dos estudos controlados prospectivos que validaram a segurança dos implantes de silicone gel pós moratória imposta pelo governo americano.
Palestra do Dr. Alexandre Mendonça Munhoz no II Allergan Academy Hotel Grand Hyatt São Paulo/SP 2011 - Implante Mamário de Silicone Gel, Prótese de Mama, Mamoplastia de Aumento. |
Como mencionado previamente, ambas são texturizadas porém a diferença inicia-se no método de confecção do revestimento externo. No sistema Biocell, a produção da texturização é realizada pelo método de agregação de micropartículas de "sal" e posterior eliminação destas substâncias do revestimento do implante. Desta forma, consegue-se como um "imprint" negativo com irregularidades e reentrâncias sobre a superfície do implante com aspecto multiporoso e irregular. Em uma análise mais detalhada não consegue-se identificar padrões na distribuição dos poros nem tampouco na sua profundidade e espaçamento, fato este que caracteriza a superfície como uma textura mais "grosseira".
Em um interessante estudo francês conduzido por Danino et al., da Universidade Saint Louis de Paris avaliou por meio de microscopia eletrônica de varredura aos aspectos microscópicos e a nanoestrutura das superfícies texturizadas Biocell RTV (McGhan / Allergan / Natrelle) e Siltex 1600 (Mentor). Por meio de um microscópico-scanner analítico de superfície (JSM 6510A - Analytical Scanning Microscope) avaliou-se 1cm2 de superfícies texturizadas e contabilizou o número de poros, a distância, a regularidade e a profundidade dos mesmos. Os mesmos aspectos foram também avaliados na imagem correspondente da cápsula fibrosa dos implantes.
Danino et al.
Plastic and Reconstrutive Surgery. 108(1): 53-62, 2001.
Na superfície do tipo Biocell foi constatado um menor número de poros por 1,5 mm2 de superfície analisada, porém os mesmos se apresentaram mais profundos, com maior dimensão e distribuídos de maneira irregular quando comparados a superfície Siltex. Na contabilização analítica, O Biocell apresentou-se como depressões na superfície do elastômero com diâmetro que variaram entre 600-800 micrômetros (8/1,5 mm2). Já a superfície Siltex se mostrou não como depressões mas sim como nódulos/protuberâncias na superfície do elastômero com alturas variáveis entre 40-100 micrômetros (15/1,5 mm2).
Impacto da superfície texturizada no comportamento da cápsula fibrosa
Frente a essas diferenças marcantes no que tange as características microscópicas entre as duas superfícies principais, resta indagar qual seria a representação clínica e comportamento em termos de evolução a longo prazo e prevenção da contratura capsular entre uma superfície mais "grosseira" com poros irregulares e uma outra mais "suave" com nódulos regulares. De fato, a relação do elastômero com a cápsula fibrosa peri-implante se apresenta do ponto de vista macro e microscópico de maneira bem distinta quando avaliamos as duas superfícies.
No revestimento Biocell, há um crescimento franco da cápsula fibrosa na intimidade da superfície promovendo desta forma a adesão tecidual muito semelhante ao mecanismo de "velcro". Já na superfície do tipo Siltex, a aderência não ocorre ou se faz de maneira menos intensa uma vez que a presença de nódulos e não de poros não permite o mecanismo de "velcro" propriamente dito. Com isso, no Biocell há uma estabilidade maior do implante uma vez que a aderência tecidual é mais marcante e prevenção da contratura capsular.
Apesar do comportamento adverso e da relação entre cápsula e o elastômero texturizado se apresentar de maneira distinta entre as duas superfícies, nem sempre existe uma previsibilidade na formação do "velcro" e a estabilidade do implante. É fato que dois fenômenos podem participar de maneira diferente na relação do implante com a cápsula e de comportamento distinto influenciar nos resultados a longo prazo. O primeiro comportamento é caracterizado como aderência tecidual e é o desejado para todos os tipos de implante com superfície Biocell.
Neste fenômeno há a aderência com crescimento da cápsula na intimidade dos poros, a perda da força tênsil da cápsula fibrosa devido a não linearidade das fibras de colágeno e o sistema "velcro" com estabilidade e aderência do implante. Já um outro tipo de fenômeno é caracterizado como aderência fibrosa e apresenta comportamento e evolução totalmente distinto da aderência tecidual.
A aderência fibrosa é relativamente frequente na cápsula posterior do implante e não traz maiores consequências clínicas em termos de estabilidade e/ou contratura capsular. Todavia, quando circunferencial gera o fenômeno da cápsula dupla ("double-capsule"). Embora mais raro, pode estar envolvido a contratura capsular e a instabilidade do implante a médio/longo prazo. Entre as razões principais como determinantes na evolução de um ou outro comportamento podemos mencionar a mobilidade do implante no períodos iniciais da formação da cápsula.
Desta forma, torna-se imperioso que na utilização do Biocell, a loja do implante se apresente de maneira muito próxima ao tamanho do implante de modo a não permitir movimentações nos períodos iniciais. Ademais, deve-se evitar ao máximo manipulações externas do implante como massagens/drenagem linfática de sorte a evitar movimentação e impedir a formação do sistema "velcro".
Atualmente toda a linha de implantes e expansores Allergan / Natrelle apresenta revestimento texturizado tipo Biocell. Nos implantes anatômicos biodimensionais como os estilos 410, 510 e 150 implante-expansor este aspecto de revestimento traz um grande benefício uma vez que permite uma maior aderência tecidual e evita/minimiza a possibilidade de pequenas rotações no sentido horário / anti-horário. Em se tratando de implantes anatômicos, a eventual situação de uma rotação pode comprometer o resultado estético e resultar em assimetrias.
Nos expansores estilo 133 MV e FV, a aderência também contribui para estabilização do expansor na loja correta da mastectomia e no plano submuscular. A não aderência e a força contrátil do músculo peitoral podem levar a migração do expansor para o polo superior da mama e desta forma prejudicar o cone ideal de expansão tissular no polo central e inferior da mama.
Coquetel / Jantar após o evento científico do II Allergan Academy. Implante Mamário de Silicone Gel, Prótese de Mama, Mamoplastia de Aumento. Natrelle. Dr. Alexandre Mendonça Munhoz |