Vias de Acesso e Cicatrizes em Prótese de Mama
Existe técnica ideal ??
Palestra realizada na
XXXIII JORNADA CARIOCA DE CIRURGIA PLÁSTICA
Hotel Sofitel - Copacabana
Vias de acesso em prótese de mama. Aula Dr. Alexandre Mendonça Munhoz na Jornada Carioca da Cirurgia Plástica. Implante de silicone, cicatriz, técnicas, oncoplástica. |
Introduzida na década de 60, a via inframamária constitui atualmente a técnica mais antiga para a colocação da implante de silicone. Em painéis de mastoplastia de aumento realizados com frequência em eventos científicos de cirurgia plástica, representa atualmente 80% da preferência da grande maioria dos cirurgiões, sendo que em mais de 30% é a única opção de colocação do implante. Entre os critérios habitualmente empregados para a opção da via inframamária, podemos destacar a presença de hipomastia sem ptose mamária, a presença de ptose leve (grau I), uma adequada definição do sulco inframamário e a presença de simetria razoável (posição e diâmetro) do complexo aréolo-papilar.
Jornada Carioca Cirurgia Plástica 2012 |
Vias de acesso em inframamária para prótese de silicone. Aula do Dr. Alexandre Mendonça Munhoz na Jornada Carioca da Cirurgia Plástica 2012. Implante de silicone, cicatriz, técnicas, oncoplástica. |
Nas mensurações determinadas até 3,0 cm consideramos as pacientes ideias para a aplicação da técnica inframamária isolada sem necessidade de qualquer reposicionamento e/ou retirada de pele com outras cicatrizes. Ademais, para estiramentos anteriores inferiores a 1,5 cm, pode-se utilizar a via inframamamária isolada e implantes com menor projeção. A medida que há maior estiramento anterior e por consequência maior flacidez cutânea, há a necessidade de maior projeção anterior do implante com objetivo de se preencher a complascência maior existente. Todavia nas situações clínicas onde identifica-se um grau de ECA superior a 3,0 cm, deve-se aventar a possibilidade de outra técnica de acesso como a periareolar total ou mesmo a associação com mastopexia com objetivo de maior efetividade no tratamento do excedente cutâneo. A indicação de implantes extra-projetados e com maior volume nestes casos pode acarretar em resultados estéticos poucos satisfatórios com pseudo-ptose a médio prazo.
Apesar das vantagens, simplicidade da técnica e da alta prevalência em nosso meio, não necessariamente a via inframamária é o melhor procedimento em todas as pacientes candidatas a mastoplastia de aumento. Na verdade, a grande limitação atual é a própria cicatriz na região mamária fato este que a depender da anatomia da mulher e a evolução da cicatriz, pode constituir um ponto negativo no resultado estético final. Ademais, e em virtude das diferentes modas de vestuário nos últimos anos, a presença da cicatriz na região inframamária pode constituir um ponto de limitação. Assim, em biquinis muito pequenos e restritos na região do cone mamário (mesmo pensamento para o soutien), a cicatriz pode ficar visível, e em alguns casos causar desconforto na tentativa constante de esconder sob o biquini quando se levanta os braços e o mesmo é tracionado involuntariamente para cima. Outro ponto negativo, está relacionado com o volume do implante e o tamanho final da cicatriz.
Inframamária (4,5 cm/implante (315ml) / alta coesividade. Prótese de mama, vias de acesso. cicatriz |
Desta forma, torna-se imprescindível o adequado planejamento e posicionamento da cicatriz inframamária. Apesar de atualmente não ser a nossa 1a. opção nas mastoplastias de aumento 1ário., a via inframamária ainda apresenta posição de destaque e pode ser a preferência pessoal da paciente que busca a cirurgia de aumento. Neste sentido, alguns detalhes técnicos devem ser tomados com objetivo de se assegurar a melhor evolução da cicatriz. No nosso planejamento pré-operatório, determinamos a posição do sulco inframamário atual com a paciente em posição sentada e braços aduzidos. Nesta situação é importante identificar-se a presença de assimetrias, e outras alterações de posicionamento de sulco uma vez que grande parte delas podem ser corrigidas e/ou amenizadas na cirurgia. Com a identificação do sulco inframamário, estabelecemos a projeção do novo sulco pós-cirúrgico (neo-sulco) e este é diretamente relacionado ao volume do implante escolhido. Desta forma, torna-se importante o planejamento métrico pré-operatório com intuito de se determinar antes da cirurgia o volume (ou volume aproximados) do implante (este planejamento métrico foi abordado com mais profundidade na postagem, link:
Dr. Alexandre Mendonça Munhoz
Palestra em Santiago/Chile
Agosto-2011
Uma vez determinada de maneira precisa e/ou aproximada o volume final do implante, conseguimos precisar o grau de "rebaixamento" do novo sulco inframamário e desta forma o posicionamento adequado da cicatriz resultante. Habitualmente para um implante de matriz redonda Inspira/Natrelle (Allergan), o volume aproximado de 310ml representa um diâmetro de 11,0 cm que representará uma distância de aproximadamente 5,5 cm do centro do implante até o novo sulco. Uma vez que acrescentamos o diâmetro da aréola e em média com aproximadamente 4 cm (logo um raio de 2cm), a distância da papila para o novo sulco inframamário será aproximadamente 7,5 - 8,0 cm. Desta forma, nesta posição deve-se realizar a marcação do novo sulco inframamário de modo a cicatriz resultante apresentar-se em situação menos perceptível e exatamente na transição cutânea entre a região mamária e a pele da região costal.
Tomando como base o implante de 310 ml (Inspira/Natrelle), vale salientar que para cada 50ml acrescidos ao volume do implante aumenta-se em até 0,5 cm distância do complexo aréolo-papilar até a posição do neo-sulco inframamário. De modo semelhante e para cada 50ml reduzidos ao volume do implante de silicone reduz em 0,5 cm a distância até o neo-sulco. Ademais, em mulheres que desejem cicatrizes menos perceptíveis e uma maior liberdade nos trajes de banho de modo que esta fique mais escondida, pode-se retirar em 0,5 cm distância da posição final do neo-sulco. Desta forma e sendo mais conservador nesta distância, consegue-se coloca-la em situação mais alta e, portanto coberta pelos trajes de banho. Nesta situação, habitualmente informamos a paciente que não é a posição ideal uma vez que esta se situará fora do sulco inframamário e dentro da mama, porém a mesma não será visível com trajes de banho mesmo na situação de braços estendidos.
VÍDEO: Via inframamária na troca do implante de silicone gel.
A Via Axilar:______________________________________________
Introduzida na década de 70, e já muito discutida em outras ocasiões, a via axilar apresenta menor prevalência em nosso meio e representa atualmente menos de 10% da preferência dos cirurgiões. Ademais, em enquetes realizadas durante painéis e mesas redondas de eventos científicos, próximo a 50% dos cirurgiões plásticos não a utilizam de maneira alguma, mesmo em condições ideais de anatomia e instrumentos. Parte desta menor prevalência e, portanto rejeição a técnica axilar, deve-se ao fato primeiramente da sua complexidade e a necessidade do uso de instrumentos especiais (customizados) com objetivos de se realizar a dissecção a loja do implante mamário. Em algumas situações há a necessidade do aparato de endoscopia, fato este que coloca o procedimento em desvantagem em relação as demais técnicas quais sejam a via inframamária e as técnicas areolares.
Ademais, persistem ainda alguma dúvida embora sem fundamento científico, no que diz respeito a maior incidência de deslocamentos do implante e hematoma na tecnica axilar quando comparada com as demais técnicas. De fato, a nossa experiência demonstra resultados semelhantes no que tange a incidência de complicações, não tendo a via axilar maior risco para deslocamento e sangramentos.
Desta forma, para valores de ECA de até 3,0 cm consideramos a melhor indicação para a aplicação da técnica axilar. Ademais, para estiramentos inferiores a 1,5 cm, pode-se utilizar a via axilar isolada e implantes com menor projeção. A partir de um maior estiramento anterior e por consequência maior flacidez cutânea, há a necessidade de maior projeção anterior do implante com objetivo de se preencher a complascência de pele existente. Todavia nas situações clínicas onde identifica-se um grau de ECA superior a 3,0 cm, deve-se aventar a possibilidade de outra técnica de acesso como a periareolar total ou mesmo a associação com mastopexia com objetivo de maior efetividade no tratamento do excedente cutâneo e evitar resultados insatisfatórios como pseudo-ptose.
Jornada Carioca Cirurgia Plástica 2012 |
De fato, na região da axila a pele é mais delgada que na região inframamária e areolar. Ademais, nos dias subsequentes a cirurgia e, portanto o período de maior edema, a região axilar não é submetida a distensão/tração cutânea como ocorre nas vias de acesso localizadas na região mamária. Assim, quando utilizamos a via de acesso axilar grande parte do edema ocorre na região mamária e não sobre a incisão cutânea como nas demais técnicas. Associado a este fator, a paciente permanece com os membros superiores em posição de abdução em um período de 20-40 dias pós cirurgia o que resulta também em menor tração da incisão cutânea. Estes aspectos tornam-se importantes principalmente nas pacientes que apresentem antecedentes para cicatrizes hipertróficas / quelóide tendo assim a via axilar vantagens em relação as demais técnicas.
VÍDEO: Via axilar, marcação da incisão por meio de manobras de adução/abdução.
Cicatriz axilar (1 ano) - Prótese de Mama |
Apesar dos benefícios em relação ao posicionamento da cicatriz longe da região mamária, a técnica axilar não é isenta de desvantagens. De fato, há a necessidade de treinamento e experiência por parte do cirurgião além da necessidade de instrumentos específicos como afastadores especiais, descoladores longos, e em alguns casos selecionados o aparato de vídeo-endoscopia. Ademais, há a necessidade de cuidados pós-operatórios mais detalhados com objetivo de se evitar o deslocamento da prótese. Como todo o trajeto até a região retrofascial mamária é realizado no sentido súpero-inferior, a ação do músculo peitoral de maneira inadvertida e vigorosa em um período de pós-operatório recente pode levar ao deslocamento superior do implante de silicone. Desta forma, preconizamos o emprego da faixa de posicionamento axilar associado ao soutien de contenção que serão mantidos por um período de 30 e 45 dias respectivamente.
Além do posicionamento, a faixa axilar tem como finalidade o fechamento do trajeto da prótese e promover uma maior aderência tecidual da prótese nos tecidos adjacentes. Na situação de implantes com textura de última geração do tipo Biocell e com conformação anatômica, esta estabilidade e aderência são fundamentais para o resultado. Associado a isto, as pacientes devem ser orientadas a manter os membros superiores próximo ao tronco com abdução máxima de 10-30 graus pelo período de 3 - 4 semanas. Na nossa experiência, e empregando o sistema de vestimentas e contenção associado com cuidados rigorosos durante o pós-operatório em termos de mobilidade de membros superiores por parte da paciente, não observamos casos de deslocamento e/ou rotação do implante de silicone gel.
VÍDEO: Posicionamento da faixa axilar, no pós-operatório imediato da prótese de mama.
Desta forma, e a luz do conhecimento e da experiência atual, a técnica de mastoplastia de aumento por meio da via axilar tem se mostrado efetiva na solução dos casos de hipomastia, tendo a sua contra-indicação apenas nas situações de flacidez mais acentuada e quadros de ptose mamária. Para mais detalhes técnicos, já abordamos esse assunto previamente em outro post, no link:
Dr. Alexandre Mendonça Munhoz
Novembro/2010
A Via Areolar:______________________________________________
Introduzida no meado da década de 70, a via areolar é a que mais apresenta variações técnicas quando comparada com as demais vias de acesso. Em painéis de mastoplastia de aumento realizados congressos de cirurgia plástica, representa atualmente 15 a 20% da preferência dos cirurgiões, sendo que as variações estão relacionadas com a localização da incisão, quais sejam localizadas na transição do complexo aréolo-papilar, ou na região transareolar e também na extensão envolvendo parcialmente ou toda a circunferência da aréola. Entre os critérios habitualmente empregados para a opção da via areolar, podemos destacar a presença de hipomastia sem ptose mamária, a presença de ptose leve, moderada (grau I e II), e a presença de assimetria (posição e diâmetro) do complexo aréolo-papilar.
Vias de acesso periareolar em prótese de mama. Aula Dr. Alexandre Mendonça Munhoz na Jornada Carioca da Cirurgia Plástica. Implante de silicone, cicatriz, técnicas, oncoplástica. |
Entre os critérios de indicação para a via areolar, os mesmos aspectos relacionados a via inframamária e axilar se aplicam, acrescentando-se a presença de ptose leve-moderada (grau I-II) e assimetria de complexo areolo-papilar. Na presença de ptose mais acentuada (grau III, e sobretudo IV), ainda preferimos a associação com técnicas de mastopexia de modo a corrigir adequadamente o excesso de pele e promover um adequado posicionamento da mama. De modo semelhante também ao planejamento feito nas outras vias, determinamos a flacidez cutânea por meio do estiramento cutâneo anterior ou ECA que determina de maneira indireta não apenas a ptose mas também o excesso do envelope cutâneo. Desta forma a avaliação criteriosa é fundamental para se auferir bons resultados uma vez que a identificação da anatomia mais favorável para esta técnica nem sempre é clara. Na nossa experiência procuramos indicar a periareolar total até o grau III de ECA, ou seja com 2-3 cm de tração cutânea anterior.
Jornada Carioca 2012 Sofitel |
Outro aspecto não menos importante na indicação da via de acesso periareolar, está relacionado com as características anatômicas da areola, quais sejam o diâmetro e a coloração local. Desta forma e, sobretudo, na técnica hemi-periareolar, é de fundamental importância a presença de um diâmetro mínimo com objetivo técnico de permitir/facilitar a introdução do implante mamário. É fato também que a extensão da cicatriz, e na periareolar não é diferente, que o volume do implante e as características de coesividade também podem determinar em uma maior ou menor necessidade de cicatrizes mais amplas e desta forma o diâmetro mínimo areolar.
De maneira geral, para implantes de baixa coesividade (Natrelle Truform I, responsivo) e baixo volume (até 220cc) pode-se conseguir bons resultados com aréolas com diâmetro de até 2,5cm. Todavia, para implantes maiores (superiores a 300cc) e alta coesividade (Natrelle 410 ou 510), há a necessidade de no mínimo 4-5 cm de diâmetro para a introdução adequada do implante. No mesmo sentido de pensamento, deve-se analisar com cautela a coloração da aréola e a característica de transição entre a parte cutânea areolar pigmentada e parte cutânea mamária não pigmentada. Na nossa experiência, os melhores casos e que evoluem com cicatrizes menos perceptíveis a longo prazo, são as aréolas de coloração mais escura, quais sejam o rosa, salmão acentuado ou as tonalidades de marron intenso. Associado, a transição da parte pigmentada para a não pigmentada deve ser o mais abrupta e definida possível de modo a melhor camuflagem da cicatriz a longo prazo.
Entre os aspectos negativos da via periareolar podemos mencionar a presença de cicatrizes na região central da mama e, portanto mais perceptíveis na eventual situação de evolução para hipertrófica e/ou quelóide. Há ainda a possibilidade de assimetrias e distorções da área circular da aréola, principalmente nos casos onde se realiza a periareolar total com pexia mamária. Nesta situação, uma vez que toda a sustentação da mama e da flacidez cutânea é realizada pela cicatriz periareolar, e a depender do volume do implante e da característica da pele da paciente, podem ocorrer alterações da forma circular, alargamento da cicatriz e assimetrias. Contrário a opnião vigente, as alterações de sensibilidade são semelhante as observadas nas demais técnicas, quais sejam a axilar e a infra-mamária. Em sua grande maioria são temporárias e retornam aos valores pré-cirúrgicos em um período de 3-6 meses. Em raros casos podem ocorrer alterações sensitivas mais duradouras e em sua maioria estão associadas a implantes volumosos e maior trauma/distensão nervosa durante a inserção e posicionamento dos mesmos.
Na literatura alguns estudos avaliando a sensibilidade de mama pré e pós colocação de implantes de silicone, já determinaram o padrão habitual de hiposensibilidade temporária e a ausência de diferenças significantes entre as diferentes técnicas. De fato, Mofid et al. do grupo de San Diego/EUA avaliaram por meio de metodologia específica (PSSD-Pressure Specific Sensory Device) e objetiva a sensibilidade com complexo aréolo-papilar em 20 mulheres submetidas a mastoplastia de aumento com as técnicas periareolar e inframamária. Publicado no periódico Plastic and Reconstructive Surgery* em 2006 e já muito apresentado e discutido em eventos de cirurgia plástica, o estudo demonstrou que não houve diferenças estatísticas entre as vias periareolar e inframamária.
Mofid et al.
Plastic and Reconstructive Surgery, 117(6): 1694-1700, 2006
Ademais, as alterações de sensibilidade foram diretamente relacionadas com o volume do implante de maneira proporcional, ou seja quanto maior o volume do implante, maiores e mais duradouras foram as alterações sensitivas. Entre as hipóteses para tal achado, há a possibilidade de maior tração/estiramento das fibras sensitivas durante a introdução do implante, a maior extensão da incisão (pelo fato do implante ser mais volumoso) e o aumento maior da extensão cutânea a ser inervada para a mesma quantidade de fibras nervosas (menor densidade por cm2 de terminações nervosas livres). Ademais, o grupo de San Diego sugerem ainda que as observações concluídas no estudo sejam reportados na avaliação pré-operatória e que as pacientes sejam informadas de maneira adequada sob os riscos de implantes mais volumosos no desenvolvimento das alterações de sensibilidade e não na interferência do tipo de incisão no desenvovimento das mesmas.